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Crise na Nicarágua registra mais de 440 mortos, e igrejas se unem em oração pela paz 

A crise política na Nicarágua está à beira de se transformar em uma guerra civil, com confrontos entre diferentes grupos de manifestantes e uso de força de repressão por parte do governo, liderado por Daniel Ortega desde 2007. Nesse contexto, as igrejas do país têm se colocado em posição de clamor a Deus pela restauração da paz.

Os conflitos começaram em abril, quando Ortega publicou um decreto modificando as regras da previdência, exigindo maiores contribuições de trabalhadores e empresários. A população foi às ruas, com trabalhadores, indígenas e estudantes unidos. A reação do governo foi violenta, mas os protestos resultaram em recuo do presidente a respeito do decreto.

No entanto, casos de corrupção e a insatisfação popular com a gestão Ortega fizeram com que os protestos continuassem, e a resposta, novamente, foi violenta por parte do governo. Em três meses, 448 pessoas já perderam a vida, incluindo uma estudante de medicina brasileira chamada Raynéia Gabrielle Lima, 30 anos, morta a tiros, de acordo com informações do G1.

A repressão à oposição por parte do presidente Daniel Ortega não acontece apenas nas manifestações. O líder político mandou tirar do ar cinco canais de TV independentes, como tentativa de silenciar as críticas. Novamente, a iniciativa resultou em mais protestos, com duas greves nacionais de 24 horas pedindo a renúncia do mandatário.

Igrejas

Um pastor evangélico nicaraguense concedeu entrevista à emissora Christian Broadcasting Network (CBN) sob condição de anonimato e pediu orações aos cristãos de todo o mundo. “Nós tememos que a guerra possa irromper a qualquer momento e isso traria muito sofrimento. Por favor, orem por nós”, pediu.

Ele lidera uma pequena igreja na cidade de Masaya, a 27 quilômetros da capital Manágua. A cidade é base de um grupo de manifestantes em oposição ao presidente e se declarou, no último dia 19 de junho, “território livre” do governo de Ortega.

“Eu moro em um bairro onde a polícia e outras forças estão indo de porta em porta e prendendo jovens. Há tantas pessoas desaparecidas que tememos que possam estar mortas”, lamentou o pastor, acrescentando que semanas atrás, uma multidão de policiais saiu em marcha pelas ruas. “Eu fiquei debaixo da cama com minha esposa e minha filha, que é deficiente. Foi aterrorizante”.

Os católicos são maioria no país, e no começo da crise, em abril, Ortega se reuniu com os bispos da Igreja Católica para pedir que mediassem as negociações. “Vários bispos tiveram um papel fundamental nos primeiros dias do conflito, atuando como mediadores entre o governo e as forças da oposição. Os bispos desempenharam um papel vital na tentativa de trazer a calma para a situação”, contou o pastor.

Os evangélicos, que somam 15% da população, adotaram postura diferente, mais passiva: “Muitas igrejas evangélicas estavam relutantes em assumir um papel político tão ativo e, em vez disso, oraram e jejuaram nos bastidores. As igrejas também distribuíram comida, água e aconselharam as famílias que foram afetadas pela violência”, descreveu.

Ao longo do tempo, os manifestantes pró-Ortega se voltaram contra a Igreja Católica, e vários casos de vandalismo e agressões a padres foram registrados. Logo depois, o presidente também se opôs aos sacerdotes católicos, acusando-os de serem “golpistas”, e passou a agir de forma mais agressiva contra os religiosos.

“Muitas igrejas foram usadas como quartéis para armazenar munições e bombas”, acusou o presidente durante um discurso, inflamando a ira contra os cristãos católicos.

Segundo o pastor, o clima é de terror: “Todo mundo na minha cidade tem medo. Você não pode andar na rua com confiança. Há civis armados e policiais perambulando pelas ruas. Há câmeras por toda parte e as pessoas sabem que as autoridades estão nos observando”, contou.

Segundo ele, a igreja evangélica deve permanecer neutra, por precaução: “Temos que estar do lado da justiça e do povo. Realmente não sabemos para onde estamos indo. Por favor, ore para que Deus traga compreensão para as autoridades do nosso governo”, finalizou.

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