Tamanho da letra:

 

 

Protestos no Brasil: Cristão pode participar? Escritor Mario Paganelli explica texto de Paulo sobre submissão às autoridades

 

 

Muitos cristãos, incluindo líderes e pastores, opõem-se às recentes manifestações sociais que questionam a postura de autoridades e decisões tomadas por elas em temas diversos.

O argumento usado por essas lideranças evangélicas para reprovar os protestos está baseado no texto do apóstolo Paulo em Romanos 13, quando ele aconselha que “todos devem sujeitar-se às autoridades do governo, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram ordenadas por ele”.

O escritor Mário Paganelli, teólogo e mestrando em Ciências da Religião, publicou um artigo sobre a questão no blog Neoprotestante com uma reflexão sobre a extensão do conselho de Paulo.

“E quando o Governo pratica desmandos, quando é comprovado ilicitudes em sua gestão? E quando há injustiça por parte das mesmas autoridades? O mesmo Paulo, quando foi julgado por crime que não cometeu, não se submeteu, antes, apelou a Cesar (Atos 25.11). Ele desrespeitou seu próprio mandamento? Claro que não. Houve grande mobilização em função de sua apelação; um destacamento militar foi colocado à disposição do apóstolo, uma longa viagem teve de ser feita, ele ficou dois anos sob custódia do Império, tudo isso porque não aceitou as disposições legais contrárias a verdade a seu respeito”, pondera Paganelli.

O artigo do escritor traz ainda a constatação que outros casos semelhantes são relatados na Bíblia, e cita o protesto do povo judeu contra o rei do Império Medo-persa, no Velho Testamento: “Recentemente reli o livro de Ester, o qual mostra uma trama de morte contra o povo de Deus no Império Medo-persa. O que fizeram os judeus? Organizaram-se, jejuaram, mas manifestaram-se perante o rei. Ester enfrentou uma disposição real correndo risco de morte, uma vez que era proibido aproximar-se do rei sem a sua expressa autorização. No final, ela alcançou justiça e livramento para o seu povo”.

Segundo Paganelli, é importante ressaltar que a lei deve ser seguida, e atos de vandalismo devem ser repudiados: “No Brasil democrático temos uma situação distinta, pois que a democracia supõe o governo pelo povo e para o povo (em grego, democracia significa poder do povo). Obviamente o povo não governará, mas elegerá especialista para tal finalidade. Dentro do governo democrático, os mecanismos legais (lícitos) são os mecanismos políticos e as manifestações são direitos do povo (não confundindo com atos de vandalismo e violência)”, opina.

O autor ainda ressalta que os protestos no Brasil por questões sociais são temas que fazem parte da agenda cristã: “Todo cristão é chamado a buscar a justiça, a igualdade, a paz, os recursos básicos para a sobrevivência do próximo (estou pensando em moradia, alimentação, saúde, segurança, educação etc.). E não somente para cristãos, mas para todo o povo. O próprio Jesus disse que Deus dá sol e chuva para justos e injustos (Mt 5.45), lembrando que ‘sol e chuva’ afetavam diretamente a economia daquele povo, cuja base cultural eram a agricultura e a pecuária”

Gospel+