Tamanho da letra:

      Uma panorâmica sobre Cantares

      No boletim anterior dissemos que a vida literária de  Salomão, como autor inspirado por Deus, teve três fases: Juventude – livro de Cantares; Maturidade – livro de Provérbios; e Velhice - Eclesiastes.

      Cantares, chamado também de Cântico dos Cânticos, portanto, é o inicio dos labores literários de Salomão onde ele retrata o frescor da vida, quando se tornara rei, o relacionamento afetivo envolvendo um homem e uma mulher. Nesse livro Salomão trata dele mesmo e de uma favorita sua, dentre as mil mulheres que teve,  Sulamita, mulher morena e mui formosa.

     Cantares ainda é uma ode (composição poética de caráter lírico) sobre o relacionamento íntimo entre um homem e uma mulher que se amam, e cujo amor se expressa dentro do matrimônio.

    Segundo o texto sagrado, Salomão teve mil mulheres (1 Rs 11.1-3), a maioria delas por questões políticas, mas nenhuma delas gozou tanto de sua estima e amor quanto a Sulamita retratada em  Cantares. O caso com a Sulamita foi quando o seu harém tinha aproximadamente 50 ou 60 esposas. 

   Segundo Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, o livro tem sido interpretado de duas maneiras: drama e idílio lírico, sendo o mais plausível aquela que o interpreta como idílio lírico, com ênfase no romance e casamento de Salomão com a Sulamita. “Aqueles que consideram o poema um conjunto de idílios, identificam Salomão  como o amante em toda a história, que seria a seguinte: O rei Salomão, ao visitar sua vinha do monte Líbano, encontra-se por acaso com a formosa donzela Sulamita, que dele foge. Ele a visita disfarçado de pastor e conquista seu amor. Vem, então, com toda a pompa requisitá-la como sua rainha. Casam-se no palácio real quando o poema principia. Entremeiam-se reminiscências da época da conquista e reflexões feita pelos amantes, bem como coros que realçam as várias figuras”.

     Cantares é considerado como o grande livro bíblico sobre a “lua de mel”, início da vida matrimonial, sendo insuperável por sua beleza, figuras sutis e profundas verdades humanas. Pelo fato do livro enfatizar muitos aspectos físicos do romance, beleza e amor, muitos o considera um livro erótico e não qualificado para fazer parte do Cânon Sagrado.

    Segundo os estudiosos bíblicos, Salomão quando escreveu Cantares tinha como objetivo histórico comemorar o seu casamento com a Sulamita e expressar as delicias íntimas do casamento como uma dádiva de Deus. Com essa ênfase fica a lição de se preservar, tanto o homem como a mulher, para o casamento, estando fora de cogitação relações sexuais a parte dessa instituição divina. O objetivo religioso tem como ênfase revelar o amor de Deus por Israel, o seu povo, que é considerado nos livros proféticos como a esposa de Yahweh, bem como dele para com o seu marido, Deus. É importante observar que o relacionamento conjugal de Deus com Israel é tipo do amor do Filho de Deus, Jesus Cristo, pela sua Igreja, que é considerada a noiva do Cordeiro e no futuro escatológico esposa Sua (Ap 21.9).

     Segundo Ellisen, o livro de Cantares enfatiza duas facetas do amor: ternura e paixão, a primeira no cuidado carinhoso para com o outro cônjuge e a segunda no arrebatado zelo da proteção ciumenta (o amor é forte como a morte). Ainda segundo o autor de Conheça Melhor o Antigo Testamento, o amor verdadeiro está expresso em Ct 8.7: “Nem muitas águas conseguem apagar o amor; os rios não conseguem levá-lo na correnteza. Se alguém oferecesse todas as riquezas de sua casa para adquirir o amor, seria totalmente desprezado”.

    Cantares, na cultura israelita da época, era lido na festa da Páscoa, que é a primeira festa do ano do povo de Deus do passado. Como a Páscoa fala de uma aliança de Deus com o seu povo, que é simbolizada numa relação matrimonial, a mensagem de Cantares fala sobre o amor de Deus pelo seu povo, numa relação como que de casados.

    Quanto a Cristologia, como foi dito acima, o livro tipifica Cristo como o noivo celestial e a igreja como sua noiva, que se unirão em núpcias no grande dia da segunda vinda do Senhor. “Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou” Ap 19.7.           Pr. Eudes Lopes Cavalcanti