Em certa ocasião, o Senhor Jesus estava ministrando aos seus discípulos sobre a maneira de tratar as falhas ou pecados dos irmãos entre si. O apóstolo Pedro perguntou-lhe quantas vezes deveria perdoar a um irmão que pecasse contra ele. O próprio apóstolo arriscou uma resposta a qual colocamos como título desta reflexão (Mt 18.15-22). O Senhor Jesus respondendo a pergunta de Pedro disse que não seria até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Olhando para a resposta do Senhor, é bom que compreendamos que Ele não estabeleceu uma quantidade fixa de vezes que o perdão deveria ser liberado, mas Ele estava ensinando que não há limite para perdoar, quando a pessoa que errou se humilha e pede perdão. (o número sete nas Escrituras nos fala de algo ilimitado, completo, divino).
Na estrada da vida cristã, os crentes em Cristo, que são membros da família de Deus, e que estão ligados pelo Espírito uns aos outros e todos pelo mesmo Espírito a Deus, no âmbito da Igreja local e até fora dela, às vezes pecam uns contra os outros. É de suma importância que os pecados de uns contra os outros sejam tratados, ou seja, quem pecou deve procurar o irmão e confessar o seu erro e esse por sua vez deve liberar o perdão ao seu irmão. A falta de confissão se constitui também noutro pecado, pois denota que o ofensor não reconheceu o seu erro nem tão pouco se arrependeu. “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta” Mt 5.23,24. Também é pecado se o ofendido não perdoar o pecado do seu irmão, independente de confissão ou não. “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos não perdoará as vossas ofensas” Mt 6.14,15.
Não há nada que estrague mais a unidade e a comunhão da Igreja do que a falta de perdão entre os irmãos, e não há nada mais que glorifique a Deus do que a liberação do perdão de uns para com os outros. “Porque eu quero misericórdia e não sacrifício;...” Os 6.6.
Nas Escrituras temos uma história contada por Jesus e só relatada por Lucas (Lc 15.11-32), intitulada de A Parábola do Filho Pródigo. Essa comovente história fala de um filho que pecou contra o seu pai, abandonando a casa paterna, desperdiçando a sua herança nos prazeres do mundo. Arrependido, volta para casa e, antes mesmo de se humilhar diante do seu pai, o pai correu ao seu encontro e, comovido, o beijou e o recebeu com alegria no seio da família que ele abandonara. Essa parábola nos ensina o grande amor de Deus, do seu perdão sem limite que é dispensado a todos quantos se voltam para Ele, independente do pecado cometido. Se Deus, irmãos, dispensa o seu perdão para nós, não devemos nós dispensar aos outros o perdão também? Se Deus perdoou em Cristo as nossas ofensas passadas, presentes e futuras, não devemos nós perdoar de coração aos nossos ofensores?
Infelizmente, muitos de nós têm o coração endurecido, inflexível, que guarda rancor e tem dificuldade de perdoar os outros. Atentemos, amados, para o mandamento deixado por Deus para a Igreja, através da pena inspirada de Paulo: “suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim Cristo vos perdoou, assim fazei vós também” Cl 3.13.
Rev. Eudes Lopes Cavalcanti
Pastor Titular da III IEC/JPA