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A Evangelização e a Soberania de Deus

 

Por causa do pecado de nossos primeiros pais, já previsto no programa divino, Deus, segundo seu propósito e graça, elaborou na eternidade e o executou no tempo o plano redentor, através da morte sacrificial do Seu Filho Jesus Cristo (segundo esse plano o Cordeiro, o Senhor Jesus, foi morto antes da fundação do mundo - Ap 13.8).
A culpa do pecado de Adão atingiu todos os seus descendentes, num efeito dominó, fazendo com que toda raça humana seja considerada pecadora aos olhos de Deus. “Por um homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte; a morte passou a todos os homens porque todos pecaram” Rm 5.12 (Veja ainda Rm 3.23).
Dentre os seres humanos, atingidos pela culpa do pecado de Adão, Deus segundo a sua graça, misericórdia e bondade, independente de qualquer ato de bondade ou fé previsto neles (Ef 2.8,9), escolheu um grupo deles, que é a Igreja para demonstrar nela a sua graça e bondade, contemplando-a assim com a salvação eterna. “Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” Rm 9.23.
O plano redentor para o indivíduo tem etapas estabelecidas por Deus, segundo nos revela a Bíblia Sagrada: “Porque os que dantes conheceu (devotou amor intenso), também os predestinou para serem conforme a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou” Rm 8.29,30. As etapas segundo o texto acima são: amados por Deus (escolhidos), predestinados, chamados, justificados e glorificados, sendo as duas primeiras estabelecidas na eternidade, as duas seguintes concretizadas no tempo e a última num futuro escatológico.
Ainda segundo o plano de Deus, a chamada do indivíduo predestinado para a salvação dar-se-á no tempo de sua existência neste mundo, e isto através da pregação do Evangelho. “Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” 1 Co 1.21. O apóstolo Paulo tinha consciência de que Deus o chamara para promover a fé que era dos eleitos de Deus de sua geração (Tt 1.1). (Veja ainda 2 Tm 2.10).
A pregação do Evangelho deve ser feita a todas as pessoas em todo o mundo para testemunho, conforme dito por Jesus em seu sermão escatológico (Mt 24.14), mas a Igreja deve ter a consciência de que só os eleitos atenderão a chamada divina. O Senhor Jesus disse que as suas ovelhas, e só elas, ouvirão a sua voz (Jo 10.26,27). Deve-se considerar ainda que para cada eleito Deus determinou o dia e a hora em que eles serão chamados e contemplados com a salvação eterna. “E de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação” (Veja ainda At 13.36). Os eleitos de Deus estão espalhados pelo mundo inteiro de acordo com a vontade soberana do Senhor, por isso a ordem do Senhor Jesus deixada para a Igreja foi para que o evangelho fosse pregado a todas as pessoas em todas as nações (Mc 16.15,16; Mt 28.18-20; Lc 24.47; At 1.8). Através do Seu Espírito, Deus move a Igreja e a dirige na pregação do Evangelho para alcançar os seus eleitos nascidos, que ainda não foram alcançados com a chamada eficaz. No livro de Atos podemos observar esta verdade: “E Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um varão da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos. E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciar o evangelho” At 16.9,10. “E disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala e não te cales; Porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade” At 18.9,10. “E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos quantos estavam ordenados para vida eterna” At 13.48. “Louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo, E todos os dias acrescentava o Senhor à Igreja aqueles que se haviam de salvar” At 2.47. Ainda nessa linha de raciocínio, devemos entender que quando os eleitos, em sua geração estão concentrados numa determinada área geográfica e que o tempo da chamada de Deus para cada um deles é próximo um do outro ou num mesmo tempo, será grande a colheita de almas quando se lançar à rede da pregação do Evangelho “De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia, agregaram-se quase três almas” At 2.41 (Veja ainda At 14.1; 12.24).
Mas acontece que, às vezes, os eleitos não estão concentrados num lugar, na sua geração. Nesse caso o resultado da colheita de almas será numericamente pequeno ou nulo. Reportando-se ao Antigo Testamento, vejamos o caso de Nínive, capital da Assíria: Numa época ela foi totalmente salva pela pregação feita por um homem de Deus (Jn 3.1-10) e noutra foi destruída totalmente, sem informações sobre conversão de seus habitantes (Na 2.1-13; 3.1-19). Veja o resultado da pregação de Paulo em Filipos em duas reuniões: só duas famílias foram alcançadas pela graça de Deus – a de Lídia e a do carcereiro daquela cidade (At 16.12-33). Houve caso no ministério de Paulo que o Espírito de Deus o proibiu de pregar o Evangelho em duas localidades e ocasiões (At 16.6,7). Por quê? A ordem de pregar o evangelho não fora dado a Igreja para alcançar o mundo inteiro? Não havia eleitos naquelas localidades? Se havia, chegara o tempo da chamada eficaz para eles? Por que Paulo pediu oração a Igreja de Colossos (Cl 3.4) para que Deus abrisse portas à pregação da Palavra e também para que ele fosse orientado como fazê-la? Não é porque as coisas, no reino espiritual, devem ser de acordo com o plano eterno estabelecido por Deus?
Como pudemos observar neste texto, evangelização e soberania de Deus andam juntas, não são inconsistente, nem incongruente, nem tão pouco um paradoxo, mas fazem parte do programa redentor de Deus. A tarefa de evangelização é uma das grandes tarefas da Igreja e nessa obra ela deve investir pesado, mas ela deve entender que os frutos numéricos não são resultados só dos seus esforços evangelísticos, mas sim da ação soberana do Espírito de Deus. “Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento...” 1 Co 3.6,7.