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Porque os congregacionais usam o sistema democrático de governo de igreja

 
Na doutrina da Igreja (Eclesiologia), temos uma parte que contempla o governo da Igreja. Três são os tipos básicos de governo eclesiástico: O Episcopal, o Presbiteriano e o Congregacional. No governo Episcopal, o poder de mando está centrado nos bispos, que são designados por um colégio composto de bispos. Os bispos governam a Igreja sem o concurso daqueles que fazem parte dela. No regime Presbiteriano, o governo reside no Conselho da Igreja que é composto de Presbíteros eleitos pela mesma para o exercício de um determinado mandato. Esses Presbíteros recebem da Igreja delegação para gerir os negócios da Igreja por um tempo definido em seu Estatuto. Durante o mandato do Conselho da Igreja, fica ela, geralmente, ausente do processo decisório. No regime Congregacional, o governo da Igreja é exercido pelos seus membros através de suas assembleias regularmente convocadas para tratar das questões internas da mesma. O regime Congregacional é conhecido também como uma forma democrática de governo eclesiástico. Neste regime, há uma valorização da membrezia da igreja, pois regularmente ela se reúne para tomar conhecimento do andamento do trabalho em todas as suas instâncias. Há ainda Igrejas que usam uma forma híbrida de governo, misturando Episcopalismo com Presbiterianismo e com Congregacionalismo. Há ainda aquelas que na sua forma de existir não adotam nenhum tipo de governo, pois eles não têm lideranças estabelecidas, e os crentes quando se reúne, qualquer dos membros da comunidade pode dirigir o trabalho. Esse grupo, dentre eles os Quacres e os Irmãos, quando reunido espera a direção do Espírito Santo para dá andamento a reunião.
Os Congregacionalistas optaram pelo modelo democrático de governo de Igreja por entender que é o que mais respaldo bíblico tem, senão vejamos: 
1) no primeiro momento no Novo Testamento em que a Igreja local é referenciada, o Salvador a identifica como o árbitro para tratamento de questões disciplinares. “E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano” Mt 18.17. Observem que o Senhor não disse que levassem o problema para a liderança (bispos, pastores, presbíteros) da Igreja, e sim para ela mesma como comunidade, e ela arbitraria a questão. A recusa do indivíduo faltoso em ouvir a Igreja daria ensejo para que ela o considerasse como uma pessoa impenitente. Observem ainda que o Senhor não entregou a responsabilidade de decidir a questão da disciplina aos apóstolos, e sim à comunidade. Claramente, descartam-se nesse texto bíblico, os governos episcopal e presbiteriano. 
2) O segundo momento em que o modelo Congregacional de gestão de Igreja é identificado foi quando da reunião para a escolha do homem que iria substituir Judas Iscariotes, que tinha traído Jesus e se suicidado, deixando um lugar vago no colégio apostólico. “E naqueles dias, levantando-se Pedro no meio dos discípulos (ora a multidão junta era de quase cento e vinte pessoas) disse: Homens irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus;...” At 1.15,16. Observem que Pedro, a liderança emergente no seio da incipiente comunidade, não tratou com os seus pares a questão do substituto de Judas, pois se ele tivesse feito isso era um ponto positivo para o modelo episcopal de governar a igreja, pois os onze apóstolos tinham condições de escolher o substituto em questão, no entanto, ele coloca a questão para a comunidade decidir a quem apresentar para ocupar o lugar vago no apostolado; e a comunidade de forma democrática apresentou dois nomes, sendo escolhido Matias, por sorteio. “E apresentaram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias” At 1.23. 
3) No terceiro momento fazemos menção ao texto que trata da escolha dos homens que iriam cuidar da atividade de assistência social na Igreja de Jerusalém. “E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio.” At 6.2,3. Observem os leitores que se o modelo ideal de governo de Igreja fosse o Episcopal ou o Presbiteriano o assunto teria sido resolvido entre eles, apóstolos, que também eram Presbíteros (1 Pe 5.1) e tinham autoridade para tal, mas sabiam eles que a Igreja do Senhor como comunidade local era uma instituição divina com autoridade de Deus para gerir-se a si mesma. Foi a Igreja na forma de governo Congregacional que resolveu o problema, ficando a responsabilidade dos apóstolos apresentarem o perfil dos ocupantes do ofício que iria atender a área de beneficência da Igreja (homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria). 
4) Ainda outro texto que consolida o sistema de governo Congregacional e que descarta o Episcopal e o Presbiteriano é quando do tratamento do primeiro cisma teológico que surgiu na Igreja primitiva, que foi o caso do grupo judaizante que ensinava que os crentes gentios precisavam ser circuncidados para poderem ser salvos. A questão que surgiu na Igreja de Antioquia foi tratada pela Igreja em Jerusalém. Observem que os contatos iniciais foram com a liderança daquela Igreja (apóstolos e anciãos = presbíteros) “Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, sobre aquela questão” At 15.2, mas quando o assunto chegou na sua fase de decisão, a Igreja (toda a sua membrezia) foi convocada para participar do processo. “Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos, com toda a igreja, eleger homens dentre eles e enviá-los com Paulo e Barnabé a Antioquia, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens distintos entre os irmãos” At 15.22. Quando a carta contendo as instruções teológicas para a Igreja de Antioquia foi feita, ela contava com o aval de toda a comunidade e também dos seus representantes. “E por intermédio deles escreveram o seguinte: Os apóstolos, e os anciãos e os irmãos, aos irmãos dentre os gentios que estão em Antioquia, e Síria e Cilícia, saúde” At 15.23. Isso tudo mostra, caro leitor, o Congregacionalismo como forma correta de modelo bíblico de Igreja. Quem iria questionar a decisão dos apóstolos do Senhor e dos Presbíteros da Igreja se eles fizessem isso sozinho. Acho que de bom senso, ninguém faria isso, pois eles eram as autoridades estabelecidas por Deus na Igreja. Se o regime fosse Episcopal ou Presbiteriano eles teriam decidido a questão entre eles, mas essas autoridades espirituais não eram maiores do que a autoridade da Igreja como uma comunidade de salvos, e eles sabiam disso e prezavam por esse regime, por isso levaram o assunto para ser aprovado pela Igreja, última instância para tratamento de questões seja de que natureza for, conforme o texto de Mateus 18.17. 
5) Ainda outro texto que corrobora o sistema de governo Congregacional é o que trata da eleição de Presbíteros para o estabelecimento de lideranças no seio das Igrejas nascentes. “E, havendo-lhes, por comum consentimento, eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao SENHOR em quem haviam crido” At 14.23. Observem que quem escolheu mediante eleição os seus oficiais Presbíteros foram os próprios membros das Igrejas reunidos em assembleias democráticas. Se o regime fosse Episcopal, por exemplo, os próprios Apóstolos teriam feito a nomeação das lideranças das Igrejas, mas não é assim que a Bíblia diz. Ela diz que a Igreja escolheu mediante eleição os seus oficiais Presbíteros. 
6) Outro texto que nos revela que o Congregacionalismo era a forma de governo aceita pela Igreja primitiva é o encontrado em 1 Co 5.1-7, onde o Apóstolo aos gentios fala sobre a omissão da Igreja em não aplicar no momento adequado a disciplina a um dos seus membros faltosos. “Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação” 1 Co 5.2. Paulo cobra da Igreja como um todo e não a uma liderança em particular sobre a demora em aplicar a disciplina devida àquele caso. 
7) Outro texto que aponta o governo Congregacional como o que tem mais respaldo bíblico é o encontrado em 1 Co 6.1-6 no qual Paulo fala sobre litígios dentro da Igreja, demandas de irmãos contra irmãos. “Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos? Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? 1 Co 6.1-3. Paulo novamente aponta a comunidade reunida como quem tem autoridade dada por Deus para arbitrar as questões dentro dela. Observem que ele nada fala da liderança da Igreja de Corinto (Bispos, Pastores, Presbíteros, Diáconos) como os árbitros e sim a comunidade em geral, seguindo a lógica do sacerdócio universal dos crentes. 
8) Ainda outro texto que nos revela o sistema democrático de governo de Igreja como o corretamente bíblico é o de 1 Co 16.3, quando Paulo trata da oferta que a Igreja de Corinto deveria levantar para ajudar os crentes da Judéia que passavam dificuldades. “E, quando tiver chegado, mandarei os que por cartas aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém” 1 Co 16.3. Neste texto, Paulo novamente aponta para a comunidade como um todo e não a sua liderança como quem tendo autoridade para decidir quais seriam os homens que levariam pra Jerusalém a oferta coletada. Ainda outro texto que fala do Congregacionalismo como o sistema correto de governo de Igreja encontra-se em 2 Co 2.5-7 quando Paulo fala sobre o perdão que a Igreja deveria dispensar a um irmão faltoso que teria sido punido por ela e estava arrependido. “De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza” 2 Co 2.7. Observem os irmãos que Paulo não esta falando a uma liderança e sim a comunidade como um todo. Lembrem-se de que na carta aos Coríntios o destinatário é a Igreja (o conjunto de salvos, os seus membros) e não a liderança em particular como consta nas suas cartas pastorais. Ainda existem outros textos que tratam do assunto, mas os citados nos dão sobejas razões para fazermos a opção pelo Congregacionalismo como a forma correta de se administrar a Igreja.
9) O Congregacionalismo está alicerçado em um dos princípios estabelecidos pela reforma protestante, que é um princípio bíblico, no caso o sacerdócio universal dos crentes. Entendiam os escritores do Novo Testamento e posteriormente os Reformadores que os crentes em Cristo compunham um sacerdócio espiritual através de Cristo para oferecer a Deus sacrifícios espirituais agradáveis a Deus. (veja Hb 13.15; 1 Pe 1.5; Ap 1.6; 5.10) e não somente para isso mas para se autogerir no cotidiano de sua vida ministerial como comunidades eclesiais que são.
Consolidado o assunto à luz das Sagradas Escrituras, dissertaremos a seguir, de forma sucinta, sobre a dinâmica do governo Congregacional. 
1) A Igreja de governo Congregacional tem como órgão maior as suas assembleias de membros, devidamente convocadas. As Assembleias de uma Igreja Congregacional são de três tipos: Ordinária, Extraordinária e Especial. As Assembleias Ordinárias são aquelas convocadas periodicamente para tratar dos assuntos corriqueiros da Igreja tais como relatório financeiro, movimentação da membrezia, disciplina, etc. As Assembleias Extraordinárias são aquelas convocadas para tratar de assuntos urgentes que surgem no seio da Igreja. As Assembleias Especiais são aquelas convocadas para eleição de Pastores e Oficiais.
2) As Assembleias no regime Congregacional são convocadas por editais através de quadros de avisos, boletins, púlpitos, etc., com antecedência para que todos os membros saibam da realização das mesmas. Nesses editais deve constar a pauta dos assuntos que serão tratados nelas, além de dia e hora da realização da mesma. Quem deve convocar as Assembleias são aquelas pessoas que têm competência estatutária para tanto, geralmente o Pastor Titular que recebeu delegação da Assembleia para presidir a Igreja. Todos os membros da Igreja que estejam em comunhão com a mesma têm direito de participar de suas Assembleias, propondo, apoiando, discutindo o assunto e votando.
3) As Assembleias devem funcionar de forma ordeira, de acordo com as regras parlamentares de praxe. Dentro de uma Assembleia os assuntos são propostos, apoiados e votados. Se, porventura, houver empate na votação, cabe a quem preside a Assembleia decidir a questão com o seu voto. Depois dos assuntos votados, as decisões devem ser observadas por todos os membros e congregados da Igreja, pois expressa a vontade da maioria representada na Assembleia. As decisões de uma Assembleia só podem ser revogadas por outra Assembleia.
4) Dentro do sistema de governo Congregacional os Pastores, os Presbíteros, os Diáconos e os diretores dos diversos departamentos recebem autoridade da Assembleia através dos seus documentos normativos para, no âmbito de suas responsabilidades, exercerem as suas atividades. Esses líderes são submissos às assembleias de membros e fazem aquilo que ela delega para fazer. Os atos desses líderes, como dissemos, são apresentados a Igreja reunida em assembleia e conhecidos dela que os homologa ou não, ficando ao seu critério fazer isso. Ainda no governo Congregacional Os Pastores, Presbíteros e Diáconos, como dissemos, são os obreiros que recebem da assembleia da Igreja delegação, através de seus instrumentos normativos, para dirigi-la na área de suas competências. Ao Pastor da Igreja cabe a liderança maior dentro dela tanto na área espiritual como na administrativa, sendo ele o anjo da Igreja, responsável pela mesma diante de Deus, da Denominação a que pertence bem como diante do Estado Brasileiro. Os Presbíteros são os oficiais escolhidos pela Igreja, segundo ordenação do Senhor, para ajudar o Pastor no pastoreio da mesma (visitar os irmãos enfermos, orar pelos membros, instruí-los na doutrina, enfim cuidar da vida espiritual do rebanho). Os Diáconos têm a atribuição de cuidar dos crentes necessitados, de zelar pelo bom andamento do trabalho na casa do Senhor, distribuir a Ceia,... Ainda se tem numa Igreja Congregacional, a delegação de outras tarefas que são executadas pelos seus diversos departamentos que funcionam sob a orientação geral do Pastor da Igreja. A Igreja Congregacional também tem extensões que se chamam de Congregação, Ponto de Pregação e Núcleo de Oração.
5) No regime Congregacional todos os membros que estão sem restrições são convocados em dias apropriados para tomarem conhecimento dos negócios da Igreja, para aprová-los ou homologá-los. O que a Igreja decidir dentro dos critérios estabelecidos na Palavra de Deus é ratificado no céu conforme dito por nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da Igreja. “... e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” Mt 16.19. 

Pr. Eudes Lopes Cavalcanti
Ministro Congregacional da ALIANÇA
Pastor Titular da III IEC/JPA